13 setembro 2011

Trabalho infantil existe sim

Rondônia sobe no ranking do trabalho infantil chegando ao segundo lugar. (fonte: Aqui)




Certa vez, discutindo alguns assuntos graves presentes na realidade de Rondônia com amigos chegamos ao mais polêmico, Trabalho Infantil. Do início do meu trabalho na Gerência de Políticas Estratégicas para Crianças, Adolescentes e Juventude, na Secretaria de Estado de Assistência Social, ouço muito sobre essa problemática. Há quem diga que o trabalho infantil não existe, que isso é irreal e nunca foi constatado no estado.

Bom, muitas vezes já encontrei crianças com 14 anos por completar trabalhando sim, e olha que eles dão show em muito funcionário público que cumprem fielmente seu horário de trabalho que geralmente é de 6 horas corrida. As vezes até ganham 15, 20 min no final do expediente. Essas crianças, muitas delas ou a maioria, trabalham o dia todo adentrando a noite como é o caso de um garoto que encontrei na Rodoviária de Ariquemes trabalhando de engraxate ou então os dois garotos, de 13 anos cada um, que estavam no período do 7 de setembro deste ano (2011) no lavador de carros onde deixei o veículo para lavar.

Nesse ultimo caso, conversei com os meninos, procurei saber se foram eles que lavaram meu carro. Resistivos de cara negaram, quando elogiei dizendo que o veículo ficara limpo e agradável se encheram, estufaram o peito e falaram: “é tio, foi nós sim”. Aquilo me apertou o coração. Lembrei da minha infância quando eu tinha o desejo profundo de vender picolé. (rsrs) É engraçado, mas quis muito vender picolé só por que via amigos que trabalhavam com isso andando debruçados por sobre o carrinho, eu achava aquilo o máximo. Certa vez me enchi de coração e indaguei minha mãe sobre isso. Nossa, ela quase surtou dizendo: “menino você está ficando doido, se seu pai souber disso ele vai brigar contigo, nem pensa em pedir isso pra ele”. Realmente era inaceitável para um pai que tinha como discurso o estudo com dedicação exclusiva, sem distrações a não ser o laser comedido de uma boa prática de esporte, lógico, após as tarefas todas concluídas. Meu pai realmente foi o mentor da minha índole e do meu caráter. Agora penso, quantas crianças nos dias de hoje não tem um pai como eu tenho, ou então, não tem as condições mínimas necessárias só para ficar com os estudos sem ter que se preocupar com o café da manhã ou o que comer no almoço. O governo por muito tempo foi omisso a toda essa situação. É muito bonito falar de campanha informativa de enfrentamento ao trabalho infantil, no entanto só quem sabe o que é passar fome é que realmente tem clareza dessa situação.

Nunca concordei com essas companhas, folheto, panfleto, tantos etos que não resolvem o problema, rios de dinheiro gastos pelo poder público, pelos órgão de fiscalização e que não surtem efeito nenhum. Há que se pensar em novas estratégias, em mudanças, em novos formatos de tratar essa população que está ai, sob nossos olhares, invisíveis, nos bastidores da sociedade. Eles clamam por justiça social, por igualdade de direitos, por intervenção positiva de seus governantes nos quais depositam sua confiança do dia das eleições de que um dia as coisas irão mudar para melhor. Entra governo, sai governo e o povo é colocado em escanteio caindo em descrédito.

É chegado o momento de revermos a forma de tratar nossa gente que está em vulnerabilidade e risco social, estamos falando de quase 1/3 da população do estado (Dados preliminares Censo IBGE 2010), precisamos entender a fundo a situação de um pai ou mãe que coloca seu filho para trabalhar e ajudar com as despesas de casa por que não tem condições de assumir essa responsabilidade, precisamos buscar no íntimo dessas famílias as soluções para tudo isso e parar de achar, sentados de uma mesa confortável, que somos os donos da verdade e aquilo que fazemos daqui irá resolver seus problemas.

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